terça-feira, 20 de outubro de 2009

Retratos dum país surreal.

No mesmo dia em que a discussão em Aveiro sobre que fazer com o monstro herdado do Euro chega ao ponto de fazer noticia, pois já há quem defenda implodir a inutilidade, chega-nos a notícia de que os presidentes das federações portuguesa e espanhola de futebol apresentam a Joseph Blatter a candidatura ibérica a um Mundial de Futebol ao Mundial de 2018 ou 2022, mais esse paladino do desporto e aveirense, de nome Gilberto Madaíl fez mesmo estas declarações fantásticas à TSF “Eu disse que, em princípio, há três estádios fixos (Luz, Alvalade e Dragão), mas nós temos um estudo feito com mais dois cenários possíveis. Uma coisa é o orçamento para a candidatura, outra coisa são os investimentos que vão ou não ser necessários fazer. Nós temos cenários de haver um ou mais dois estádios em Portugal”….“Teria toda a vantagem incluir o Algarve, mas temos de ver o que é necessário para que aquele estádio passe a sua capacidade de 29 mil para 42 mil espectadores, para ver se vale a pena. Tem de haver uma ponderação local. Tem de se ver quais são os custos disso e quem é que paga. Isso é um problema que tem de ser discutido entre o Governo e a Câmara”.

Será isto um bocadinho de bom senso?! ou ecos da crise...???

Porque, nós temos sentido de humor....

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Prémio Nobel da Literatura - Herta Müller,


Herta Müller, que foi distinguida esta quinta-feira com o Prémio Nobel da Literatura, tem um estilo muito especial, tem uma prosa exacta, clara, o gosto dos suecos é assim, goste-se ou não.

um excerto:
a dália branca
«Nos dias escaldantes de Agosto, a mãe do carpinteiro tinha metido, com um balde, uma grande melancia dentro do poço, A água fez ondas à volta do balde. A água borbulhou em volta da casca verde. A água refrescou a melancia.
A mãe do carpinteiro foi com uma grande faca para a horta. O carreiro era um rego. A alface tinha espigado. As folhas estavam coladas com o leite branco que lhes corre nos pés. A mãe do carpinteiro levava a faca ao longo do rego. Onde a sebe começa e a horta acaba, florescia uma dália branca. A dália chegava-lhe ao ombro. A mãe do carpinteiro cheirou a dália. Cheirou prolongadamente as pétalas brancas. Aspirou a dália. Esfregou a testa e olhou para o pátio.
A mãe do carpinteiro tinha cortado a dália branca com a faca grande.
‘A melancia foi uma desculpa’, disse o carpinteiro depois do funeral. ‘A dália é que foi a perdição dela.’ E a vizinha do carpinteiro disse: ‘A dália era um rosto.’
‘Por este verão ter sido tão seco’, dizia a mulher do carpinteiro, ‘é que a dália estava cheia de pétalas brancas enroladas. Fez-se tão grande como nenhuma dália alguma vez podia ser. E como houve vento neste Verão, não se desfez’. Embora já não tivesse vida, não conseguiu murchar.’
‘Isto não se aguenta’ disse o carpinteiro, ‘ninguém consegue aguentar isto.’
Ninguém sabe o que a mãe do carpinteiro fez com a dália branca. Não levou a dália para casa. Não a pôs no quarto. A dália também não ficou caída na horta.
‘Ela veio da horta. Trazia a faca grande na mão’, disse o carpinteiro. ‘Nos olhos dela havia qualquer coisa da dália. A córnea estava seca.’
‘Pode ser que tenha esperado pela melancia’, disse o carpinteiro, ‘e entretanto tenha desfolhado a dália. Desfolhou-a com a mão. Não havia pétalas espalhadas pelo chão. Como se a horta fosse uma sala.’
‘Acho que’, disse o carpinteiro, ‘ela abriu um buraco na terra com a faca grande. Enterrou a dália.’
A mãe do carpinteiro tirou o balde do poço ao fim da tarde. Levou a melancia para a mesa da cozinha. Espetou a faca na casca verde. Com a faca na mão fez um círculo com o braço e cortou a melancia ao meio. A melancia rachou. Foi um estertor de agonia. No poço, sobre a mesa da cozinha e até cair aberta em duas metades, a melancia ainda estava viva.
A mãe do carpinteiro esbugalhou os olhos. Como tinha os olhos tão secos como a dália, não se abriram muito. O sumo escorria pela lâmina da faca. Os seus olhos pequenos olhavam com hostilidade a polpa vermelha. As pevides pretas pareciam os dentes dum pente encavalitados uns sobre os outros.
A mãe do capinteiro não cortou a melancia em talhadas. Pôs as duas metades da melancia à sua frente. Com a ponta da faca escavou a polpa vermelha. ‘Tinha os olhos mais gulosos que já se viram’, disse o carpinteiro.
O líquido vermelho escorrera pelo tampo da mesa da cozinha. Escorria-lhe dos cantos da boca. Pingava-lhe dos cotovelos. O sumo vermelho da melancia ficou colado ao chão.
‘Os dentes da minha mãe nunca foram tão brancos nem tão frios’, disse o carpinteiro. ‘Enquanto comia dizia: não olhes dessa maneira. não me olhes para a boca.’ E cospia as pevides pretas para a mesa.
‘Eu virei os olhos. Não saí da cozinha. Tive medo da melancia’, disse o carpinteiro. ‘Olhei para a rua pela janela. Vi passar um homem desconhecido. Ia apressado e falava sozinho. Ouvia pelas costas como a minha mãe escavava com a faca. Como mastigava. E como engolia. Mãe, disse eu sem a olhar, pára de comer.’
A mãe do carpinteiro levantara a mãe. «Gritou e eu olhei para ela por ter gritado tão alto’ disse o carpinteiro. ‘Ela ameaçou-me com a faca. Isto não é um verão e tu não és gente, gritou ela. Sinto uma pressão na testa. Tenho as tripas a arder. Isto é um verão que lança as chamas do fogo de muitos anos passados. Só a melancia é que me refresca.»

Herta Muller «o homem é um grande faisão sobre a terra»

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A pobreza do jornalismo em Portugal.

Que os jornalista são permeáveis, todos temos consciência disso, que alguns são mesmo tendenciosos também. Que desprezam o seu próprio código deontológico, chegando mesmo a publicar fontes dos colegas, bom sobre isso já muito se disse.
Venho aqui comentar uma noticia já com algum tempo mas que apareceu novamente em foque as alegadas 60.000 cópias que o Dr. Paulo Portas teria tirado justamente na noite que deixou o ministério. Esta não noticia veio publicada em vários jornais e foi novamente referenciada pelo demagogo Dr. Louçã. Ora analisemos os factos, para tirar 60.000 cópias seriam necessários pelo menos 3 dias, para uma só pessoa, pois o tempo médio de uma cópia irá dos 2 a 10 segundos dependendo do suporte físico do documento em que está o original, a alternativa seria um staff de 20 pessoas a tirar cópias, nenhuma das alternativas me parece verosímil. Uma outra questão como tirou o Dr Portas esta quantidade de cópias do ministério, recorreu á arte dos origamis e fez voar, as 120 resmas de papel do ministério para a sua residência, dobradinhos em cegonhas ou quaisquer outras aves. Srs Jornalistas um exercício simples pegar num contrato de 10 folhas e tirar cópias do mesmo aí na redacção bastava para verificar uma NÃO NOTICIA. Termino, dizendo que também há bom jornalismo em Portugal, profissionais que gastam tempo, trabalhando semanas a fio em reportagem, confrontando fontes, pesquisando, enfim trabalhando, sim trabalhado, há em Portugal felizmente ainda quem trabalhe e verifique a veracidade do que entrega na redacção.
Pensem nesta palavras…